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FRAGMENTOS DE UMA VIDA RURAL

Autor
JORGE FRANCISCO MARTINS DE FREITAS

Excerto

A noite já tinha declinado quando Manuel Silva acaba de arrumar os últimos utensílios da lavoura no espaçoso armazém da Herdade Fidalgo Formoso, onde trabalhava havia vários anos.

De início, este camponês era apenas um dos muitos trabalhadores vocacionados para todo o serviço que o fidalgo Luís de Lacerda mantinha na propriedade herdada do pai; porém, em breve, ascende a capataz, não só devido à sua honestidade, mas sobretudo por saber ler e escrever, competência rara nos meios rurais do fim do século XIX.

Tinha aprendido a contar e a juntar as primeiras letras durante o tempo em que cumprira o serviço militar, em Lisboa. Quando voltou para a terra natal, ainda não completara a aprendizagem; todavia, sempre que lhe chegava às mãos um jornal, por muito antigo que este fosse, aproveitava-o para aperfeiçoar a leitura.

Fazia parte das funções do capataz ir à vila adquirir, para o patrão, tudo aquilo que a terra não produzia, como, por exemplo, o saboroso peixe que era vendido no mercado. Quando regressava à propriedade, ambos se alimentavam graças a essa compra, embora de forma distinta: o fidalgo, rico, mas analfabeto, enchia a barriga com um sublime e apetitoso manjar; o capataz, pobre, porém alfabetizado, nutria novos conhecimentos através da leitura do jornal onde o peixe viera embrulhado.

Desde sempre, ambicionara ser dono de uma parcela de terreno onde pudesse cultivar os seus próprios produtos; contudo, esse intuito apresentava-se bastante difícil, dado auferir uma modesta jorna. Só conseguiria alcançar esse objetivo com uma vida austera, pautada por muitos sacrifícios, que incluíam a supressão de vícios que muitos homens da altura dificilmente eliminavam, como as frequentes visitas ao taberneiro local.

Para poupar dinheiro, já havia abandonado a ideia de constituir família, decisão que muito havia afligido Graciete, uma formosa jovem da região, que por ele sentia grande afeto.

A imagem intitulada Ceifeiras que acompanha este conto foi pintada por Silva Porto, em 1893.

Este excerto faz parte do livro de contos ENTRE PARAGENS, já disponível em livrarias de Portugal e do Brasil.

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