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LITERATURA
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O TESOURO

Uma história rural passada em Portugal no ano de 1908


Autor
JORGE FRANCISCO MARTINS DE FREITAS

Excerto

Zé Pereira havia prematuramente atingido aquela idade em que as ilusões de obter uma melhor vida começam a esmorecer.

Todas as madrugadas, ao nascer do Sol, começa a trabalhar na extensa propriedade agrícola de D. Raimundo, um abastado fidalgo da região de Vila Viçosa, ali permanecendo, às suas ordens, até o dia cair. E todo este esforço para receber, ao fim de cada semana, meia dúzia de moedas com as quais tenta cobrir, com enorme dificuldade, as despesas familiares mais prementes.

A humilde casa de piso térreo em que vive, situada numa pequena aldeia perto da propriedade do patrão, fora construída pelos avós paternos. Na fachada principal, caiada com esmero e onde não falta a tradicional barra azul, uma pequena porta com postigo dá acesso ao interior da habitação, constituída por um único compartimento englobando a cozinha (que também serve de sala de estar) e duas alcovas separadas por tabiques. No conjunto, sobressai a tradicional chaminé, onde a mulher cozinha e os enchidos são fumados.

Para a alimentação da família, apenas conta com os produtos de uma pequena horta nas traseiras da casa e com meia dúzias de galinhas, duas cabras e um suíno cuja matança tem vindo a adiar, em virtude de se ter afeiçoado ao animal.

Mais uma vez, regressa a casa já de noite. Beija a mulher com ternura e acaricia, com as calejadas mãos, a cabecita do Joãozinho, filho de ambos, nascido há seis meses, a quem estará destinada, quase de certeza, a mesma vida sofrida dos pais.

Finda uma frugal refeição, dirige-se à sua alcova, onde se encontra uma modesta cama de ferro coberta por dois descoloridos cobertores que já haviam servido de agasalho aos defuntos pais em gélidas noites de inverno. Apesar da pobreza que o envolve, tem a sensação de estar perante o leito dourado de um rei, pois naquele lugar já havia passado, com a sua Maria, inesquecíveis momentos de felicidade. Deita-se, ao lado da mulher, abraçando-a com afeto, mas, em breve, deixa-se vencer pelo sono, martirizado pelo longo e árduo trabalho campesino.

Este excerto faz parte do livro de contos ENTRE PARAGENS, já disponível em livrarias de Portugal e do Brasil.

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