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EFEMÉRIDES

Aconteceu a 8 de fevereiro de 1985



Morte do escritor e poeta português José Gomes Ferreira

Às 2 horas e 30 minutos do dia 8 de fevereiro de 1985, morre, em Lisboa, vítima de broncopneumonia, o poeta, escritor, político e compositor português José Gomes Ferreira.

Eminentes figuras da cultura portuguesa pronunciam-se, neste dia, mais pela verticalidade humana que durante toda a sua vida o poeta deixou transparecer do que pelo inegável valor da obra literária que nos legou:

O compositor Fernando Lopes Graça refere que «dele nunca se ouviu dizer uma palavra de rancor»; Óscar Lopes, professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, considera-o «o testemunho mais vibrante de quase 50 anos de fascismo» e Mário Dionísio, escritor, pintor e professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, afirma que o seu desaparecimento «é como sentir a morte de si mesmo».

Fonte: Diário de Lisboa nº 21680, de 08-02-1985, 64º ano de publicação, pp. 1 e 20

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José Gomes Ferreira nasce no Porto, a 9 de junho de 1900.

Com quatro anos de idade, o seu pai, um democrata republicano que muito influenciaria a sua consciência política, leva-o para Lisboa.

No Liceu Camões, desfruta de um primeiro contacto com a poesia ao ter tido, em 1915, Leonardo Coimbra1 como professor.

Ainda muito novo, colabora com Fernando Pessoa, num soneto para a revista Ressurreição.

Em 1924, licencia-se em Direito, tendo exercido, posteriormente, as funções de cônsul na cidade de Kristiansund, na Noruega.

Paralelamente com esta atividade, seguia uma carreira como compositor. (Ver listagem com as suas obras musicais, no fim deste artigo).

Quando, em 1930, regressa a Portugal, deixa colaboração sua na Presença, Seara Nova, Descobrimento, Imagem, Sr. Doutor, Gazeta Musical e de Todas as Artes e, ainda, na Ilustração.

Sob o pseudónimo de Álvaro Gomes, traduz filmes para português.

Apesar de já haver escrito Lírios do Monte (1918) e Longe (1921), o poema "Viver sempre também cansa", publicado em 1931, na revista literária Presença, marca a sua verdadeira entrada no mundo das Letras.

Em 1978, torna-se Vice-Presidente da Associação Portuguesa de Escritores.

No campo político, é candidato por Lisboa, pela APU (Aliança Povo Unido), às eleições legislativas intercalares de 1979, associando-se ao PCP (Partido Comunista Português) em fevereiro do ano seguinte.

Prémios e homenagen

Ganhou, em 1961, o Grande Prémio da Poesia da Sociedade Portuguesa de Escritores; recebeu, em 1965, o Prémio da Casa da Imprensa; foi distinguido, em 1981, com o grau de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada e, em 1985, com o grau de Grande-Oficial da Ordem da Liberdade: em 1983 foi homenageado pela Sociedade Portuguesa de Autores; a 1 de outubro de 1985, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa descerra uma lápide de homenagem ao escritor na Avenida Rio de Janeiro, sua última morada.

Em 1978, a Escola Secundária de Benfica, em Lisboa, que fora projetada pelo seu filho Raul Hestnes Ferreira, passa a chamar-se, em sua homenagem, Escola Secundária de José Gomes Ferreira.

Obras Literárias, colaboração, notas e prefácios

• Lírios do Monte, 1918
• Longe, 1921
• Marchas, Danças e Canções (colaboração), 1946
• Poesia I (1948)
• Homenagem Poética a António Gomes Leal (colaboração), 1948
• Guilherme Braga (colaboração na Perspectiva da Literatura Portuguesa do século XIX, 1948
• O Mundo dos Outros - histórias e vagabundagens, com prefácio de Mário Dionísio, 1950
• Líricas (colaboração), 1950
• Folhas Caídas de Almeida Garrett (introdução), 1955
• Contos Tradicionais Portugueses (colaboração na escolha e comentação; prefácio), 1958
• Contos, 1958
• O Mundo Desabitado, 1960
• Os segredos de Lisboa, 1962
• Aventuras Maravilhosas de João Sem Medo, 1963
• A Poesia de José Fernandes Fafe, 1963
• A Memória das Palavras - ou o gosto de falar de mim, 1965
• Imitação dos Dias - Diário Inventado, 1966
• Dias Comuns, 1968
• Situação da Arte (colaboração), 1968
• Vietnam (os escritores tomam posição) (colaboração), 1968
• Tempo Escandinavo, 1969
• Poesia IV, 1970
• José Régio (colaboração no In Memorium de José Régio), 1970
• O Irreal Quotidiano - histórias e invenções, 1971
• A Filha do Arcediago de Camilo Castelo Branco (nota preliminar), 1971
• Lisboa na Moderna Pintura Portuguesa (colaboração), 1971
• Uma Inútil Nota Preambular de Aquilino Ribeiro (introdução a Um Escritor confessa-se), 1972
• Poesia V, 1973
• Viver sempre também cansa!, 1973
• Poeta Militante I, II e III, com prefácio de Mário Dionísio, 1973
• Gaveta de Nuvens - tarefas e tentames literários, 1975
• Revolução Necessária, 1975
• O sabor das Trevas - Romance-alegoria, 1976
• Intervenção Sonâmbula, 1977
• Coleccionador de Absurdos, 1978
• Caprichos Teatrais, 1978
• O Enigma da Árvore Enamorada - Divertimento em forma de Novela quase Policial, 1980
• Relatório de Sombras - ou a Memória das Palavras II, 1980
• Calçada do Sol: diário desgrenhado de um homem qualquer nascido no princípio do século XX, 1983
• Passos Efémeros - Dias Comuns I, 1990

Traduções para português

• A Casa de Bernarda Alba de Frederico Garcia Lorca (colaboração)
• O Livro das Mil e Uma Noites (1926)

Obras musicais

• Avé Maria, Cantada na igreja dos Anjos em Lisboa
• Brisas do Monte, valsa para piano, composta em 1910 e tocada, pela primeira vez, em 1916
• O Snr. Embaixador, opereta em 1 ato, para canto e piano, com letra de Santos Braga, 1916
• Crepúsculo, valsa para piano, 1917
• Canção da Despedida, integrada na opereta Adeus Mocidade - Companhia Aura Abranches/Chaby Pinheiro, 1917
• Idílio Rústico, poema sinfónico para orquestra, 1917
• Última Dávida, poema sinfónico para orquestra
• Suite n.º 1, para orquestra

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1 Leonardo José Coimbra foi um filósofo, professor e político português. Lançou, como Ministro da Instrução Pública, as Universidades Populares e a Faculdade de Letras do Porto e, como pensador, fundou o movimento Renascença Portuguesa.

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LITERATURA

Estamos a reunir, num único local, os artigos sobre Literatura que têm vindo a ser publicados, com regularidade, no âmbito das Efemérides.




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